O conceito de estigma de Goffman aplicado à velhice

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Eunice Maria Godinho Morando
Juliana Campos Schmitt
Maria Elisa Caputo Ferreira
Cláudia Helena Cerqueira Mármora

Resumo

Estudar a velhice é pertinente devido ao envelhecimento populacional e impactos socioeconômicos dele decorrentes; formação deficitária dos profissionais que trabalham com o idoso; a distância entre o conhecimento acumulado e a aplicação prática deles à velhice; a visão da velhice como decadência intelectual, psicológica, emocional e física, sem considerar os ganhos com a experiência e a resiliência. O objetivo é refletir sobre a situação do idoso, fazendo um paralelo entre a velhice e as proposições de Goffman. Busca-se questionar o entendimento de que a velhice é ruim porque traz perdas, dificuldades de aprendizagem, declínio físico e mental, advento de doenças, restrição da participação sociopolítica e vivência do prazer. A criação e a perpetuação do estigma acontecem nas relações sociais, havendo influência de componentes histórico-culturais neste processo, o que permite variabilidade da percepção, práticas estigmatizantes e desumanização. Refletir a respeito da questão do idoso é necessário para desconstruir preconceitos, alterar a visão pejorativa e parcial que o marginaliza e favorecer seu reconhecimento como indivíduo capaz de aprendizagem e participação sociopolítica.

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Detalhes do artigo

Como Citar
Morando, E. M. G., Campos Schmitt, J., Caputo Ferreira, M. E., & Cerqueira Mármora, C. H. (2018). O conceito de estigma de Goffman aplicado à velhice. Revista INFAD De Psicología. International Journal of Developmental and Educational Psychology., 1(2), 21–32. https://doi.org/10.17060/ijodaep.2018.n2.v1.1341
Seção
Artículos
Biografia do Autor

Eunice Maria Godinho Morando, Universidade Federal de Juiz de Fora

Graduação em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola (1976), graduação em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (1985). Aperfeiçoamento em Psicologia Gestalt e Transpessoal (1988). Especialização em Educação Brasileira (1986) e Especialização em Gestalt- terapia (1986). Mestrado em Educação pela Fundação Getúlio Vargas/RJ (1990). Experiência na área de Psicologia, tendo atuado na Psicologia clínica e na Psicologia Social, atuando como psicóloga em diversos programas da AMAC. Experiência docente na educação básica e na educação superior. Interesse na linha de pesquisa Processos Psicossociais em Saúde, na área de Gerontologia, na temática memória de curto prazo. Participante do Laboratório de Estudos do Corpo (LABESC/UFJF), sob coordenação da Professora Dra. Maria Elisa Caputo Ferreira.

Juliana Campos Schmitt, Universidade Federal de Juiz de Fora

Doutoranda e mestre em Psicologia (UFJF/2017), graduada em Letras (UFJF/2014) e graduanda no curso de Pedagogia na UFJF. Membro do CogLin (UFJF/Psicologia), Grupo de Pesquisa Cognição e Linguagem. Na área de Psicologia, investiga os processos subjacentes à leitura e a influência das funções executivas na compreensão de textos em crianças com e sem TDAH.

 

Maria Elisa Caputo Ferreira, Universidade Federal de Juiz de Fora

Licenciada em EDUCAÇÃO FISICA pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1993) e Bacharel em SERVIÇO SOCIAL pela Faculdade de Serviço Social do Rio de Janeiro (1977).Especialista em Docência Universitária pela Universidade Castelo Branco (1995). Mestrado em Educação Física pela Universidade Gama Filho (1998), e Mestrado em Ciência da Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco (1996). Doutorado (2006) e Pós-doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2002). Atualmente é professora adjunta na Faculdade de Educação Física e Desportos (FAEFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Líder do Grupo de Pesquisa ?Corpo e Diversidade? do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Orientadora Plena nos programas de Pós-Graduação Associado em Educação Física UFV-UFJF e em Psicologia ICH-UFJF. Tem experiência na área de Educação Física (Movimento Humano), com ênfase em Estudos do Corpo, atuando principalmente nos seguintes temas: imagem corporal, prevalência de (in)satisfação corporal em adolescentes, jovens e adultos atletas e não atletas, obesidade e envelhecimento. Bolsista de Produtividade em Pesquisa-CNPq.

Cláudia Helena Cerqueira Mármora, Universidade Federal de Juiz de Fora

Bacharel em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1986), mestre e doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (2000 e 2005). Atualmente é professora associada II da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora onde desenvolve estudos e pesquisas na área de Fisioterapia Neurofuncional relacionada às Neurociências e Saúde Pública. É professora permanente do Programa de Pós Graduação em Psicologia da UFJF, no qual desenvolve estudos e pesquisas nas linhas de Desenvolvimento Humano e Processos Socioeducativos e Processos Psicossociais em Saúde, cujos principais temas concentram-se em Neurociências e intervenção terapêutica na saúde funcional; Psiconeuroimunologia; Gerontologia e Saúde do Idoso. É tutora do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto com ênfase em Doenças crônico-degenerativas onde desenvolve estudos sobre Hanseníase, HIV e Diabetes. Tem publicados pela Editora da Universidade Federal de Juiz de Fora os livros "Linguagem, Afasia e (apraxia): uma perspectiva neurolinguística" em 2004 e "A (A)praxia na Doença de Alzheimer" em 2013. É membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN), da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) e da Society for Social Neuroscience (S4SN). Desde 2014 lidera o Grupo de Estudos e Pesquisas em Neurociências (GEPEN -UFJF).

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